Viagens entre dimensões, cruzamentos de linhas temporais, mortes bizarras, mão com vida própria... Quem já assistiu O Paradoxo Cloverfield sabe como o filme pode ser uma total confusão.
Independentemente do que diz a crítica, uma coisa é certa, o último título da franquia Cloverfield abriu um leque praticamente infinito de teorias sobre o futuro da antologia.
Ao mesmo tempo que os filmes aparentam não ter nada a ver uns com os outros, ficamos cada vez mais admirados com as possibilidades de relacionamentos entre eles. Este é de fato o verdadeiro paradoxo!
Para ajudar a enxergar algumas dessas relações, que são fundamentais para entendermos o Cloververso, precisamos ficar atentos aos easter eggs presentes ao longo do filme (e olha que não são poucos).
Atenção: contém spoilers para O Paradoxo Cloverfield e demais filmes da franquia.
O Monstro cresceu
Vamos começar por uma das referências mais óbvias em The Cloverfield Paradox: o monstro.
A última cena do filme, quando Ava (Gugu Mbatha-Raw) e Schmidt (Daniel Brühl) estão voltando à Terra, surge entre as nuvens um monstro gigantesco que solta um grito ensurdecedor. Quem assistiu Cloverfield (2008) sabe que esta é exatamente a mesma criatura que é vista destruindo Nova York no longa dirigido por Matt Reeves.
É inegável, porém, que este Clover (apelido "carinhoso" dado ao monstro pelos fãs) é muito maior que o outro. Aliás, J.J. Abrams afirmou que o monstro em Cloverfield era apenas um "bebê".
A partir desta constatação, podemos criar diferentes teorias:
- Foram libertados vários monstros da mesma espécie, com tamanhos e idades diferentes. Ou seja, ao mesmo tempo que a criatura marinha estava destruindo Nova York (como acompanhamos no primeiro longa), monstros iguais estavam devastando outros lugares do planeta.
- O monstro visto em Paradoxo é o mesmo do primeiro filme. No entanto, para aceitarmos essa hipótese precisamos ter em mente que Cloverfield se passa em 2008 e O Paradoxo Cloverfield em 2028 - 2030.
Isso significa que o Clover que surgiu na linha do tempo do primeiro filme tinha a idade referente aquele período, enquanto que o monstro de 2028 está 20 anos mais velho. Ou seja, na realidade de 2008 o monstro foi despertado quando ainda era mais novo, já em 2028 ele só surge quando já está duas décadas mais velho.
Essa criatura poderia ter se materializado a partir de outra dimensão no momento do acidente com o acelerador de partículas, quando os vários universos paralelos se "tocam" (assim como acontecer com a Jensen, por exemplo).
O misterioso objeto de caiu do céu
O regresso de Ava e Schmidt também revela outro detalhe intrigante e que tem gerado muita discussão entre os fãs da franquia.
Como vimos, a cápsula de evacuação dos astronautas estava prevista cair próximo da costa de Delaware, nos Estados Unidos. Para quem entende da geografia americana vai logo notar como essa região é próxima de Coney Island.
Para quem não lembra, essa península é o local que aparece na última gravação feita por Robert e Beth na footage de Cloverfield: Monstro. Essa cena mostrava um detalhe bastante misterioso e que gerou várias teorias na época: a queda de um objeto do espaço em direção ao oceano.
Será que existe uma ligação entre ambas as cenas? Será que enquanto Ava e Schmidt caíam em direção à Terra foram transportados para a dimensão de 2008? Lembrando que o acidente com Shepard provocou a instabilidade entre o manto espaço-temporal que separa as dimensões.
Enfim, existem inúmeras teorias que tentam explicar a provável relação entre o final de Cloverfield: Monstro e O Paradoxo Cloverfield. Este, definitivamente, seria assunto para um extenso debate.
O bunker
Quando Michael (Roger Davies), marido de Ava, encontra Molly ("Clover Nee") em meio ao caos e destruição deixados pelos monstros, este decide que é hora de procurar proteção.
O bunker que Michael usa para se esconder não é parecido com o de Howard (John Goodman) em Rua Cloverfield 10, mas é inevitável não interpretar uma relação entre as duas situações.
Tagruato
Descobrimos durante o ARG (jogo de realidade alternativa) de Cloverfield Paradox que Tagruato estava desenvolvendo uma "fonte revolucionária de energia". Com o lançamento do filme, ficou claro que a mensagem se referia ao Shepard.
"Tokyo, 18 de Janeiro de 2018: Tagruato começou a desenvolver uma nova e revolucionária tecnologia que o CEO Garo Yashida chamou de “um salto gigante para frente para o nosso planeta”. Essa tecnologia renovável demorará pelo menos 4 anos pra ser completada, além de outros seis anos para que os órgãos regulatórios internacionais tragam essa fonte de energia revolucionária por volta de 18 de Abril de 2028."
Esta multinacional japonesa está presente em todos os filmes da franquia, mesmo que nunca tenha sido mencionada diretamente nos longas.
Em Cloverfield: Monstro vimos que a plataforma que colapsou e, possivelmente foi a responsável pela "libertação" de Clover, pertencia à Tagruato. A empresa usava essas estruturas marinhas nos oceanos de todo o planeta para extrair o principal ingrediente das bebidas Slusho! (vamos falar melhor sobre isso mais adiante).
Em Rua Cloverfield 10 descobrimos que Howard Stambler trabalhava para Bold Futura, uma empresa subsidiária de quem? Exatamente, Tagruato! O objetivo desta companhia era pesquisar e construir tecnologia para a exploração espacial. Interessante, hein?
E, por fim, em O Paradoxo, além da clara relação que a empresa tem com a construção da estação Cloverfield (como visto na nota de comunicação da empresa), também vemos o nome da companhia escrito em um dos painéis de controle da espaçonave.
Suzanne Cryer
Esta atriz interpreta a jornalista que entrevista Mark Stambler, quando este revela os perigos que os testes no acelerador de partículas podem provocar.
No entanto, não é a primeira vez que a vemos no Cloververso. Ela é a mesma personagem que aparece implorando e gritando para que Michelle (Mary Elizabeth Winstead) a deixe entrar no bunker, em Rua Cloverfield 10. No filme, Howard diz que esta mulher era sua vizinha.
Vale lembrar que mesmo sendo, teoricamente, a mesma personagem, ambas são diferentes, pois pertencem a dimensões distintas. Ou seja, em Rua Cloverfield 10 a apresentadora morreu no ataque alienígena em 2016, enquanto que em Cloverfield Paradox ainda trabalha como jornalista (pelo menos até o começo do ataque dos monstros).
Buracos de minhoca?
A morte de Volkov (Aksel Hennie) é uma das mais bizarras de O Paradoxo Cloverfield. Mas, se estivermos atentos aos outros filmes da antologia, vamos entender como as tais minhocas também podem estar relacionadas com todo o caos.
Como vimos, quando a estação foi transportada para outra dimensão, as minhocas que os astronautas mantinham na nave desapareceram e surgiram dentro do corpo de Volkov, assim como o giroscópio.
Em Rua Cloverfield 10, Emmet (John Gallagher Jr.) conta para Michelle que Howard gosta de falar sobre teorias da conspiração, citando como exemplo a história de um tal "buraco de minhoca no espaço". Sabemos que os buracos de minhoca são, hipoteticamente no âmbito da Física, "atalhos" que ligam pontos distantes do espaço-tempo. Ou seja, um caminho que poderia transportar a matéria através de galáxias ou períodos diferentes.
Esse conceito soa bastante familiar com toda a ideia de multidimensões, linhas-temporais e universos que O Paradoxo propõe, não acha?
Minhocas espaciais
Ah, também vale lembrar o aspecto físico dos aliens em Rua Cloverfield 10. As criaturas são descritas como uma espécie de "minhocas espaciais".
Levando em consideração que elementos de diferentes dimensões podem se misturar a partir do acidente com o Shepard, uma teoria sugere que algumas das minhocas da estação Cloverfield tenham ido parar em outra dimensão, evoluído e adquirido capacidade tecnológica.
Como as dimensões estão em constante instabilidade, essa raça evoluída de "minhocas" teria, em outro período da linha-temporal da dimensão que foi inicialmente transportada, viajado novamente através das dimensões até a Terra de Rua Cloverfield 10, em 2016.
Sim, esta é uma teoria muito surreal e complexa, mas que torna-se totalmente aceitável depois das possibilidades que o último filme da franquia apresentou.
Slusho!
Este talvez seja um dos principais easter eggs das produções de J. J. Abrams. E, como era de esperar, não podia deixar de aparecer em O Paradoxo.
Slusho! é o nome de uma empresa subsidiária da Tagruato, e é responsável por fabricar uma bebida feita com base no seaded nectar, uma substância misteriosa descoberta no fundo do oceano.
Descobrimos atrás do ARG de Cloverfield: Monstro que a Tagruato tem várias bases de exploração marinha, onde retira esse componente "especial" usado nas bebidas Slusho!. Na época, vimos também que teria sido um acidente numa dessas plataformas marítimas que despertou o Clover do fundo do oceano.
Ainda no primeiro longa da franquia, vemos no começo do filme uma festa de despedida para Rob Hawkins (Michael Stahl-David), que foi contratado pela Slusho! para trabalhar no Japão. Aliás, ele até aparece vestindo uma camisa com a logo da empresa.
Já em O Paradoxo a referência está num boneco bobblehead Slusho! que aparece em cima do painel de controle da estação Cloverfield, pouco antes do disparo do Shepard.
Slusho! está presente não apenas no Cloververse, mas em outras séries feitas pela Bad Robot ou com produção/direção de J. J. Abrams. A primeira aparição da bebida foi em Alias (2001-2006), sendo também vista em Heroes (2006-2010), Fringe (2008-2013) e até em Star Trek (2009).
Uma "explosão de alegria"
As bebidas Slusho! merecem um destaque especial dentro do Cloververse, pois existem muitas referências interessantes que ligam-na aos monstros vistos no primeiro e último filme da antologia.
Uma das analogias mais significantes que podemos fazer relaciona Cloverfield: Montro, o seu respectivo ARG e O Paradoxo.
Entre os materiais divulgados durante a campanha de marketing do primeiro longa, podíamos acessar ao site da empresa e ver várias frases de fãs de Slusho!. Uma das mensagens chamou atenção, pois dizia: "Slusho makes my stomach explode with happy!" (Slusho faz meu estômago explodir de alegria!).
Ao mesmo tempo, também vimos o comercial das bebidas Slusho!, onde aparece um homem bizarro se contorcendo enquanto segura no estômago.
Impossível não relacionar com o trágico efeito colateral que presenciamos em Cloverfield: Monstro quando as criaturas ferem Marlena (Lizzy Caplan).
Também sabemos que as criaturas que acompanham Clover no primeiro longa (e provavelmente também estão presentes no terceiro filme) apresentam elevados índices de Seabed Nectar em seus organismos... Interessante, não?
Família Stambler
Outra referência óbvia entre O Paradoxo Cloverfield e os outros filmes da franquia está na entrevista dada por Mark Stambler, o autor do livro The Cloverfield Paradox.
Para os mais atentos, o sobrenome Stambler não é desconhecido. Este é o mesmo nome de Howard, o dono do bunker de Rua Cloverfield 10. Sabemos que Howard trabalhava na Bold Futura, outra empresa pertencente ao grupo Tagruato, mas que era especializada em pesquisar tecnologias para a exploração espacial.
Assim como Mark, Howard Stambler também sabia que "algo" estava prestes a acontecer. Como ambos tinham essas informações? Qual será a relação de parentesco entre os dois?
Muitas teorias podem surgir a partir desta cena. Temos que lembrar que mesmo que tenham algum grau de parentesco, Howard e Mark pertencem a diferentes universos nos filmes. Será que conseguem se comunicar entre as dimensões? Viajantes do tempo? Enfim, as hipóteses são quase infinitas.
Ah, outro detalhe interessante em O Paradoxo, e que também serve de ligação para os outros filmes, está na parte que Mark Stambler fala sobre "beast from the sea" (monstro marinhos), uma referência direta ao que vimos em Cloverfield: Monstro.
Ao falar em "demons" (demônios), no entanto, esta já poderia ser uma indicação do que Cloverfield Overlord (o quarto longa da antologia) tem reservado para nós.
Kelvin
Assim como as bebidas Slusho!, o nome Kelvin é outra referência obrigatória em quase todas as produções de J. J. Abrams. Mas, neste caso, aparece apenas como uma homenagem. Este nome é dedicado ao avô materno do cineasta: Harry Kelvin.
Assim como em Rua Cloverfield 10, em O Paradoxo o nome aparece como a marca de um posto de gasolina. Mas também é possível ver Kelvin em várias outras séries e filmes que tenham o dedo de Abrams.
O "clarão vermelho"
Como vimos em Cloverfield Paradox, quando o acelerador de partículas fez o seu disparo este ficou envolvido por um intenso brilho avermelhado.
Esta descrição é quase a mesma que Emmett relata a Michelle quando fala sobre o que teria sido o início do "ataque alienígena".
"Eu vi o ataque. O céu ficou vermelho... Não como fotos de artifício ou algo assim. Não, era como algo que lemos na bíblia".
A teoria mais aceita diz que o clarão visto por Emmett foi o momento em que a Terra estava atravessando para outra dimensão.
18:20
Enquanto que em Rua Cloverfield 10 temos a referência da intensa luz vermelha emitida pelo Shepard no momento do disparo, em Cloverfield: Monstro a relação é ainda mais interessante.
Alguém lembrou de sincronizar os dois filmes e descobriu algo espetacular! Nos exatos 18 minutos e 20 segundos de O Paradoxo Cloverfield ocorre a sobrecarga do acelerador de partículas. Neste mesmo tempo, em Cloverfield: Monstro, acontece o primeiro terremoto em Nova York!
O acidente com o Shepard e o tremor de terra que anuncia o aparecimento do monstro no primeiro filme estão perfeitamente alinhados. Esta é mais uma evidência da relação que o acidente na estação espacial tem com o ocorrido nas diversas dimensões e linhas do tempo que vimos nos outros longas da franquia.
O cartaz do filme
Assim como em Rua Cloverfield 10, as linhas no cartaz do filme revelam informações importantes sobre a história.
No segundo longa vemos a linha descendo até o subsolo, uma referência ao bunker de Howard. Já em O Paradoxo temos duas linhas, que seria uma clara indicação ao conceito de dimensões paralelas que o filme propõe.
Bônus: Cloverfield no mesmo universo de Lost?
Estamos falando aqui sobre O Paradoxo Cloverfield, mas não podemos terminar este artigo sem mencionar um dos easter eggs mais arrepiantes do Cloververse.
No primeiro filme da franquia, antes de iniciar a exibição das filmagens encontradas na câmera de vídeo, podemos ver no canto inferior direito da tela o símbolo da Iniciativa Dharma!
Será que o Shepard também foi o culpado por todo o drama vivido pela galera em Lost? O que a Iniciativa Dharma tem a ver com isso tudo?
Bem, mesmo não tendo agradado muita gente, o mais legal do filme é ver as pessoas se unirem na tentativa de juntar todas as partes do quebra-cabelas e entender o complexo "Cloververso".
Se você tem mais sugestões, easter eggs ou teorias que nos ajudem a resolver este mistério e descobrir o que está acontecendo com o universo Cloverfield, deixe a sua opinião nos comentários!