Deuses Americanos fascina semanalmente o seu público com deuses e entidades sobrenaturais que nos fazem questionar sobre a sua origem e história. Um desses deuses é o discreto Thoth, mais conhecido na obra de Neil Gaiman como Mr. Ibis.
Saiba mais sobre essa divindade do Antigo Egito e descubra o seu papel em Deuses Americanos.
Mr. Ibis na série e no livro
A presença de Mr. Ibis na série foi ainda tão sutil que você pode pensar que ainda não o viu chegar. Mas logo no primeiro episódio assistimos a um homem escrevendo a história da chegada dos vikings em solo americano. Esse é Mr. Ibis, a encarnação americana do deus egípcio Thoth.
No livro Deuses Americanos, as divindades Thoth e Anúbis gerem uma funerária na cidade de Cairo, no estado do Illinois. Assumindo os nomes de Mr. Ibis e Mr. Jacquel, os antigos deuses do Egito continuam cuidando dos mortos como faziam há milênios na sua terra de origem.
Segundo o livro, a crença nestas divindades foi levada para o Mississippi com os imigrantes oriundos do Nilo e a sua mitologia foi preservada nas memórias das pessoas.
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Que deus é esse?
Um dos nomes divinos mais antigos da história da Humanidade, a veneração a este deus começou vários milênios antes de Cristo. O nascimento do culto a Thoth é apontado como tendo ocorrido no Período Pré-Dinástico, entre 6000 a 3150 anos antes de Cristo.
Thoth (também chamado de Djehuty, Tahuti, Zehuti, Tot, entre outros nomes) era venerado como o deus do conhecimento nas mais diversas formas: escrita, lei, religião, ciência, magia, artes e filosofia. Thoth era considerado o criador de todas estas formas de sabedoria mas também era visto como o deus da lua e o mensageiro de todos os deuses.
O antigo deus egípcio era frequentemente representado com a cabeça de um íbis, ave semelhante às garças ou cegonhas. A curva do bico do íbis simbolizava a fase da lua crescente e era usualmente desenhada com uma caneta e paleta. Outro animal que também era associado a Thoth era o babuíno.
Existem mitos diferentes sobre a sua criação, que surgiram em diferentes épocas na história. A lenda mitológica mais antiga sugere que Thoth se criou a si mesmo através do poder da linguagem, definindo assim o seu papel fulcral como um deus criador. Este mito relata ainda como após o nascimento, Thoth – em sua forma de íbis – chocou um ovo cósmico onde estava contido toda a criação do universo.
Outro mito da criação de Thoth é de que ele teria sido originado através da semente de Hórus e nascido pela testa de Set. Embora soe bizarro, esta lenda serve para designar Thoth como representação do equilíbrio entre a ordem de Hórus e o caos de Set. O espírito mediador do deus íbis esteve sempre presente nas lendas, e Thoth se tornou um símbolo da justiça na mitologia egípcia.
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A importância da palavra escrita
Como criador da palavra escrita, o deus Thoth era considerado o padroeiro dos escribas (na Antiguidade, eram as pessoas encarregadas de escrever, como copistas, secretários ou redatores). Existem indícios de que o culto a Thoth pelos escribas era celebrado diariamente, antes do início do trabalho.
Segundo as antigas lendas, Thoth era ele mesmo um escriba de todo o panteão egípcio. Era esta divindade quem tinha a responsabilidade de observar tudo o que acontecia e reportar ao deus Rá todas as manhãs. Como conselheiro e representante de Rá, Thoth tinha um registro de todas as pessoas do seu reino e escrevia as punições pelos seus crimes.
Os principais rituais civis e religiosos da civilização egípcia eram organizados de acordo com um calendário lunar. Como deus da escrita e da lua, Thoth era considerado o criador do calendário e da medição do tempo, existindo o mito de que foi ele a inventar o calendário com 365 dias.
Thoth e Seshat (deusa da escrita e padroeira dos bibliotecários) eram conhecedores de todos os acontecimentos, tanto no passado como no futuro. Este conhecimento sobre o destino de todos vai ao encontro da visão de Thoth como juiz incorruptível, uma entidade que tudo sabe e que busca a justiça acima de tudo. Esta faceta da divindade é vital na sua representação no julgamento dos mortos em conjunto com os outros deuses.
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Seu papel no além e a ligação a Anúbis
O deus da escrita e magia era naturalmente considerado o autor do famoso Livro dos Mortos, uma coleção de feitiços criados para guiar os espíritos no mundo do além. Certamente devido a este mito e outros à volta do deus, Mr. Ibis diz a Shadow Moon o seguinte:
“Você sabe o que é um psicopompo? É uma palavra muito chique para acompanhante. Todos nós temos tantas funções, tantas maneiras de existir. Na minha visão de mim mesmo, eu sou um erudito que vive sossegadamente, e escreve seus pequenos contos, e sonha com um passado que pode ou não ter existido. E isso é verdade, tanto quanto possível. Mas eu também sou, em uma das minhas habilidades, como tantas pessoas com quem você escolheu se associar, um psicopompo. Eu acompanho os vivos para o mundo dos mortos.”
Junto de Osíris e Anúbis durante o julgamento sagrado dos mortos, Thoth escrevia os vereditos e o resultado da pesagem do coração na balança divina do deus chacal. Esta trindade de entidades divinas eram os responsáveis pelo destino do espírito no além e a faceta de juiz íntegro era atribuída a Thoth.
O deus íbis tinha uma residência no além conhecida como a Mansão de Thoth e era um local seguro para as almas. Era na casa de Thoth que os espíritos podiam descansar, descobrir feitiços para evitarem os demônios e chegarem em segurança ao paraíso.
A ligação de Thoth ao mundo dos mortos possui ainda uma faceta simbólica relacionada com a escrita. A profissão de escriba no Egito Antigo era respeitada e a escrita era vista como uma forma de tornar o seu autor imortal. A morte física chegaria mas as suas palavras escritas sobreviveriam no tempo através dos livros e na crença de que Seshat guardaria todos os escritos na sua biblioteca divina.