Star Wars: Os Últimos Jedi oferece um olhar sobre Luke Skywalker como nunca imaginamos ser possível. O herói lendário da trilogia original – interpretado brilhantemente por Mark Hamill – volta a mostrar porque é uma figura essencial desta história intergalática.
E, por isso, precisamos falar do seu papel no filme e como ele torna possível um futuro inesperado para a trilogia. Mas os spoilers são muitos nesta (e na nossa) galáxia, por isso aconselhamos a sair da matéria antes de revelarmos tudo.
Fica o último aviso: este artigo contém spoilers.
A culpa de Luke
O Luke Skywalker de Os Últimos Jedi foi um choque para muitos fãs da trilogia original que o viam como um herói perfeito. No filme de Rian Johnson, Luke é visto na sua mais sincera e falhada humanidade, um homem atormentado pela culpa e pelo peso da sua lenda. Mas como é que Luke chegou a este estado?
Em O Despertar da Força, descobrimos que Luke Skywalker se impôs um exílio quando Ben, seu sobrinho e Padawan, trocou a luz pelas sombras. Com o novo nome de Kylo Ren, Ben corrompeu alguns aprendizes do templo de Luke e assassinou os restantes que se recusaram.
Sentindo o enorme poder de Ben, o Líder Supremo Snoke conseguiu envenenar o adolescente contra sua própria família. Com este fracasso e com a destruição do seu sonho em uma nova Ordem Jedi, Luke sente uma culpa imensurável que o leva a buscar refúgio em Ahch-To.
Com Os Últimos Jedi, é revelado mais partes desta história trágica e entendemos porque Luke se sente tão culpado. Quando ainda era um Mestre Jedi na sua academia, Luke descobriu a dimensão assustadora das trevas em Ben e, em segundos, destruiu toda a fé do sobrinho nele. Com medo que Ben destruísse tudo aquilo e aqueles que amava, Luke usa seu sabre de luz e pensa em matar o sobrinho enquanto ele dorme.
Este momento foi muito breve e Luke se arrependeu imediatamente, ficando com uma vergonha profunda pelo que sentiu. Mas de nada valeu, pois Ben tinha visto o tio empunhando o sabre de luz e o atacou no mesmo momento. Com o filho da sua irmã perdido para o lado negro da Força, e com a destruição da nova geração de futuros Jedi, Luke se fechou para tudo e todos.
Em Ahch-To, Luke se fechou até para a Força, querendo simplesmente morrer e levar com ele o legado dos Jedi.
O sacrifício que ecoa pela galáxia
A chegada e treinamento de Rey em Ahch-To não são suficientes para Luke abandonar o planeta do seu exílio. Mas com o aparecimento do espírito de Yoda, Luke encontra novamente o seu propósito e entende a importância de transmitir até os fracassos para os aprendizes. Como Yoda diz ao seu eterno aluno:
“Transmita o que aprendeu. Força, mestria. Mas fraqueza, insensatez, fracasso também. Sim, fracasso acima de tudo. O maior professor, o fracasso é. Luke, nós somos o que eles crescem além. Esse é o verdadeiro fardo de todos os mestres.”
Algum tempo depois, vemos Luke chegar ao planeta Crait e entrar num duelo com Kylo Ren. Quando Kylo atinge Luke com seu sabre de luz, ele descobre que tudo não passa de uma ilusão do seu antigo mestre. Luke usou projeção astral da Força – algo nunca antes visto em Star Wars – para enganar Kylo e dar tempo à Resistência de fugir.
Este ato surpreendente de Luke seria o seu último no mundo terreno. Reunir todas as suas energias para canalizar o poder da Força deste jeito levou Luke ao limite das suas capacidades físicas. Vemos o corpo real de Luke em Ahch-To colapsar e depois retornar à sua posição de meditação, olhando para o horizonte como fazia durante seu crescimento em Tatooine.
Luke Skywalker morre a olhar os dois sois, com uma expressão serena no rosto e o sentimento de missão cumprida. Por uma última vez, Luke trouxe novamente a esperança para a galáxia e a sua passagem para a morte é pacífica. Para trás ficam apenas as suas roupas, tal como aconteceu com Obi-Wan Kenobi, e Luke se une à Força.
A morte gloriosa de Luke fecha de forma perfeita a difícil jornada de vida. Como lição final, o Jedi compreende como ainda pode ser importante para a Resistência e usa o que aprendeu para inspirar Rey e toda uma nova geração.
O seu sacrifício renova a esperança no universo, não só de forma simbólica, como parece reacender verdadeiramente a Força em pessoas sensitivas.
O surpreendente garoto de Canto Bight
No final do longa, revemos os garotos escravizados em Canto Bight em uma cena de brincadeira. Escondidos do seu dono alienígena, um menino e uma menina ouvema história de Luke Skywalker contra a Primeira Ordem, contada por um outro garoto. O último ato de Luke volta a transformá-lo em um herói e inspira as crianças que sonham sair da escravidão de Canto Bight.
Naquela que é uma das mais belas cenas do filme, assistimos ao garoto que ajudou Rose e Finn, demonstrar capacidades surpreendentes. O menino usa a Força para agarrar numa vassoura, olhando depois para o céu estrelado e empunhando a vassoura como se fosse um sabre de luz. O garoto (no Dicionário Visual do filme descobrimos que seu nome é Temiri Blagg) é a representação da mensagem de esperança renovada na galáxia.
O legado de Luke é visível nestes últimos momentos e Rian Johnson revela isso mesmo à Entertainment Weekly:
“É principalmente sobre Luke. Para mim, mostra que o ato que Luke Skywalker fez, de decidir assumir esse manto de ‘lenda’, depois de ter decidido que a galáxia estava melhor sem ele, teve consequências muito maiores que salvar 20 pessoas em uma caverna. Agora a lenda de Luke Skywalker está se espalhando. A esperança é reiniciada na galáxia. Eu não consegui pensar em uma imagem mais evocativa de esperança do que uma criança que brinca com sua figura de ação de Luke Skywalker e se inspirando por isso para crescer e ter uma aventura e lutar contra a boa luta”.
Mas a importância de Blagg nessa última cena está profundamente ligada à revelação da identidade dos pais de Rey.
Rey e a democratização da Força
Com a inesperada revelação de que os pais de Rey não eram figuras importantes na história de Star Wars, um novo caminho foi aberto nesse universo. Deixando a linhagem Skywalker de lado, Rey surge como um novo tipo de protagonista que mostra que os heróis podem ser criados nos sítios mais inesperados, sem necessitarem de ter um sangue especial que os distinga.
Rey demonstra uma conexão poderosa com a Força e pode inspirar uma nova geração igual a ela, carregando o exemplo e lenda de Luke. Tamiri Blagg pode ser um de muitos sensitivos espalhados pelo universo, cujos feitos (e não suas famílias) ditarão o futuro da Força.
Uma nova Ordem Jedi?
Com o reacender da chama da esperança e da Força na galáxia, Rey poderá tentar reconstruir uma nova Ordem Jedi. Além das pessoas sensitivas e da Resistência, a jovem de Jakku possui algo valioso que poderá inspirar a nova geração.
Sabia que Yoda fez uma última pegadinha a Luke em Ahch-To? Quando ele faz cair o relâmpago na árvore e Luke tenta salvar os livros, Yoda diz ao seu aprendiz:
“Sabedoria eles tinham, mas essa biblioteca não continha nada que a menina Rey já não possui.”
Muito mais tarde, a bordo da Millenium Falcon, vemos Finn abrir uma gaveta onde estão os livros Jedi de Ahch-To. Yoda consegue assim acalmar a consciência de Luke, mas tendo a confiança que Rey roubou os textos milenares. A história da Ordem e seus ensinamentos serão certamente valiosos para ela e seus possíveis futuros aprendizes (isto, se ela não for como Luke, que curiosamente não leu os livros).
Ao longo de Os Últimos Jedi, vemos como a poderosa conexão entre Rey e Kylo os aproxima perigosamente. No final do filme, ela fecha literalmente a porta a esta ligação – mas será uma decisão final? Durante grande parte do longa, Rey acredita que poderá salvar Kylo das trevas, chegando até a chamá-lo de Ben e vendo ele como a esperança da galáxia.
É ainda cedo para fechar a porta a uma redenção de Kylo Ren. Especialmente quando ambos compartilham de uma raiva e sentimento de estarem perdidos no universo. Embora lutando por causas diferentes, eles são muito mais parecidos do que inicialmente se poderia pensar. Será possível que juntos tragam um verdadeiro equilíbrio à Força?
Este equilíbrio poderá ser representado pela transformação de Rey e de uma nova geração em Jedi cinza. A ideia dos Jedi cinza seria inovadora nos filmes, mas tem já uma longa tradição em material que deixou de ser considerado canônico. Afastados das regras rígidas dos Jedi e do código perigoso dos Sith, estes usuários da Força caminham em uma linha intermédia.
Ao longo de Os Últimos Jedi, vemos Luke referir o equilíbrio da Força e existe uma representação importante em Ahch-To. Perto do local onde Luke faria seu sacrifício final, existe uma caverna com um mosaico cheio de água; esse mosaico tem uma figura no centro, com um lado negro de um lado e um lado branco do outro. Sabendo que Ahch-To foi o planeta do primeiro Templo Jedi, a resposta para o equilíbrio da Força parece ter sido deixada de forma clara nessa representação.
Agora, a pergunta final parece ser: será que J.J. Abrams vai pegar nas possibilidades abertas por Rian Johnson para o último capítulo da saga? O diretor de O Despertar da Força vai retornar para o Episódio IX (junto com Chris Terrio) e poderá fazer mudanças à visão de Os Últimos Jedi.
A identidade dos pais de Rey, o legado de Luke, e muitas outras histórias não estão ainda fechadas sem o capítulo final. Que a Força esteja com J.J. Abrams enquanto ele finaliza esta maravilhosa trilogia estelar.