Finamente chegou aos cinemas o primeiro filme do que está sendo chamado Universo de Personagens Marvel da Sony. Embora quase todos esses personagens sejam inimigos do Homem-Aranha, serão retratados em histórias próprias, sem nenhuma menção ao herói lançador de teias. Para começar com essa iniciativa, a Sony escolheu Venom, transformando-o em um anti-herói de São Francisco, Califórnia.
Confira a nossa opinião sobre o filme (cuidado, leves spoilers abaixo):
Dois protagonistas em um
Eddie Brock é apresentado como o protagonista do filme. Considerado o melhor repórter investigativo com um alto senso de moral que faz de tudo para expor a verdade, por mais podre que possa ser. Mesmo que para isso ele mesmo precise ir contra a moralidade e invada a privacidade de sua namorada. Estranho não? Porém essa não é a única contradição relacionada a Eddie Brock presente nesse filme.
O filme começa com uma história mais séria e dramática para Eddie, que precisa aprender a lidar com os erros que cometeu. Contudo, quase que ao mesmo tempo, o filme não leva seu protagonista a sério, tratando-o com muitas piadas, e não desenvolve esse seu drama pessoal.
Por mais que a comédia não se encaixe perfeitamente com o personagem, é inegável que Tom Hardy se dedicou para o papel. O ator demonstrou ter talento para a comédia corporal, que por vezes parece um tanto caricatural quando apresentada por Eddie Brock, mas funciona bem quando o personagem finalmente se junta ao simbionte Venom. Por falar nessa gosma alienígena, Hardy também mostrou um bom trabalho de voz, criando personalidades distintas entre Venom e Eddie, sem nunca parecer que suas vozes vieram do mesmo ator.
A interação entre Eddie Brock e Venom é o ponto mais chamativo do filme. Por mais que isso diminua o drama pessoal de Brock, é a fonte das principais piadas do filme, e dos melhores momentos da atuação de Tom Hardy. Entretanto, o personagem do simbionte não possui uma motivação clara e constantemente ao longo filme muda de intenção, sem nada que realmente justifique isso.
O interesse romântico e o antagonista
Annie (Michelle Williams), como foi citado acima, era a namorada de Eddie Brock. Era. Pois uma vez que ele traiu sua confiança ao invadir sua privacidade, ela termina com ele. O que não significa que Eddie desistiu dela. Annie é o interesse romântico de Eddie ao longo do filme e um de seus principais aliados. Contudo, o filme não faz a gente torcer pelos dois, primeiro porque ela estava certíssima em deixar Eddie, e segundo porque os dois atores não possuem nenhuma química.
O vilão, Carlton Drake (Riz Ahmed) é outro personagem que não chama muita atenção. Não possui muito carisma e acaba passando uma impressão de empresário megalomaníaco genérico. Possui algumas falas que pretendiam ser profundas e metafóricas, mas que simplesmente parecem bobas e mal trabalhadas.
Uma massa sem forma de ação e comédia
Quando Venom foi anunciado pela primeira vez, os planos eram de que seria um filme com influência de terror psicológico e voltado para um público mais adulto. Nada disso que foi entregue, e o filme perdeu muito com essa mudança de rumo. O terror e um público alvo mais adulto poderiam ser o que filme precisava para se tornar mais distinto e explorar ao máximo esse personagem notoriamente violento dos quadrinhos.
As cenas de ação são pouco emocionantes e, por vezes, confusas, devido a edição. Muitas vezes não sabemos o que está acontecendo com detalhes e nos sentimos mais perdidos que o próprio Eddie Brock. Carros hora parecem estar perto, e hora parecem estar longe em uma perseguição (isso quando parecem surgir do nada, por trás de um ponto de ônibus). Os combates são mornos e sem ritmo, beirando o anti-climático.
O filme varia muito entre a comédia e a ação, não se firmando bem como nenhum dos dois gêneros. Em certos momentos Venom tenta ser visceral e brutalmente violento como sua versão nos quadrinhos, porém o filme, como foi lançado para uma audiência mais ampla não se compromete nessas cenas, fazendo algo bem subjetivo. Venom chega a engolir uma pessoa inteira sem deixar nem uma gota de sangue para trás.
Roteiro preguiçoso
A falta de ritmo não está presente apenas nas cenas de ação, mas é um problema geral do roteiro. O primeiro ato do filme é bem desinteressante e só volta a chamar a atenção quando Eddie se torna o hospedeiro de Venom. A partir de então seguimos o personagem, que vai conhecendo mais e mais sobre os simbiontes e os planos do vilão. No entanto, o filme falha ao criar um problema que realmente cative a audiência e a faça temer pelos "heróis" nos momentos finais do filme.
Outro ponto fraco de roteiro que está presente ao longo de todo o filme são as resoluções de problemas. Sempre que uma adversidade se instaura, ela é logo resolvida de um modo muito providencial. Seja por um personagem de uma área completamente diferente saber utilizar equipamento especializado de outra profissão, seja pelos vilões convenientemente mudarem suas políticas de eliminação de inimigos. Isso faz com que a história pareça preguiçosa e corrida demais.
O futuro do Universo de Personagens Marvel da Sony
Ainda é cedo demais para dizer como vai ser a recepção do público (embora a da crítica especializada já esteja tendendo para algo bastante ruim) para dizer como a Sony vai lidar com suas próximas produções. Contudo, é certo dizer que não foi o melhor jeito que poderiam ter começado seu Universo Cinematográfico de Personagens Marvel. Por mais que tenha sugerido uma possível continuação para o filme com a cena pós créditos, o filme não termina de modo empolgante, fazendo o espectador ficar ansioso pela sequência.