Rogue One é o primeiro dos filmes da antologia anunciada pela franquia Star Wars. A história de Jyn Erso e o seu grupo de aliados rebeldes é um capítulo mais negro do que os seus antecessores.
Mas será que isso é suficiente para sustentar o filme? Leia nossa crítica sem spoilers!
A guerra das estrelas já não é a preto e branco
Algo que sempre foi bastante marcante na saga foi a divisão clara entre o Império e a Aliança Rebelde. Esta divisão sempre definiu um lado negro e um lado branco na história, o bem e o mal encarnados na guerra espacial.
Mas Rogue One trilha um novo caminho, mostrando que o lado branco tem várias tonalidades de cinza na sua composição. Embora o Império continue igual a si mesmo – uma representação de uma ditadura total – um novo olhar recai sobre a Aliança.
A Aliança Rebelde está dividida, com várias vozes puxando em direções opostas e a esperança encontra-se diluída. O Capitão Cassian Andor é o exemplo de alguém que já obedeceu a várias ordens dos rebeldes e que sente o peso de ter de viver com essas ações.
O filme tem aqui uma oportunidade em aproveitar estas imperfeições e contar uma história diferente do habitual. Infelizmente, isto não é algo que seja aprofundado.
Jyn Erso, heroína improvável
Jyn Erso é uma ótima adição ao elenco de heroínas de personalidade forte que Star Wars sempre nos habituou. Jyn não destoa ao lado de Leia Organa ou de Rey, sendo interpretada com carisma pela atriz Felicity Jones.
As primeiras imagens do filme mostram a origem da pequena Jyn, quando ela se vê obrigada a se separar da sua família para sobreviver. É um retrato comovente da criança que se viria a tornar uma mulher independente e cética do mundo à sua volta.
Jyn é uma criminosa escapando do Império e vivendo com outros nomes para não ser identificada por ser filha de quem é. Esta necessidade de se afastar da sua identidade real faz com que ela não tenha qualquer vontade em se associar a nenhuma fação política. Isto origina um conflito interessante quando, por força das circunstâncias, ela é atirada para o centro da ação com uma missão vital: roubar os planos da Estrela da Morte.
Equipe de rebeldes com causa
Ao longo do filme, Jyn Erso vai recrutando vários aliados para uma causa que inicialmente não é sua, mas sim da Aliança. Ela inicia sua jornada ao lado do ambíguo Capitão Cassian Andor (Diego Luna) e de K-2SO, um andróide sem filtro “na língua”. Cassian Andor é a personificação do rebelde que dedicou toda a sua vida para a causa mas, infelizmente, o personagem é pouco explorado e quase nada se sabe do seu passado.
K-2SO (Alan Tudyk) é francamente divertido e sua personalidade é inesperadamente semelhante à de Sheldon de The Big Bang Theory. O andróide tem tudo para se tornar rapidamente um favorito dos fãs.
A dupla do monge guerreiro Chirrut Îmwe (Donnie Yen) e do seu amigo descrente Baze Malbus (Wen Jiang) são indispensáveis no filme, desempenhando algumas das melhores cenas de ação da longa. Os diálogos entre os dois e a importância da Força para Chirrut fazem eles se destacar dentro do seu grupo.
Por último, temos o piloto Bohdi Rook, um desertor do Império Galáctico e o elemento geek do grupo que sabe como fazer tudo funcionar.
Como grupo heterogêneo, eles são divertidos e existe uma sensação de “estar a fazer a coisa certa” que permeia todos os elementos. Mas Rogue One não é um filme que dê o devido desenvolvimento aos seus vários personagens, caindo largamente numa representação unidimensional e pouco explorado desta equipe cheia de potencial.
Fora deste time de guerreiros, está a segunda figura paternal na vida de Jyn: Saw Guerrera. O velho combatente é representado de forma extremamente bem conseguida por Forest Whitaker, sendo um dos pontos altos do filme.
Viva Darth Vader!
Sabe tudo aquilo que os fãs esperavam ver de Darth Vader em Rogue One? Missão cumprida! Darth Vader nunca foi tão ameaçador ou com uma presença tão assustadora como em esse filme. James Earl Jones volta a dar a sua voz ao vilão e continua imponente como sempre.
A grande falha de Rogue One
Sendo esse o primeiro filme de uma série antológica, Rogue One tinha uma oportunidade de ouro em expandir o universo Star Wars. Embora sua posição esteja firmemente colocada entre o Episódio III e o Episódio IV, Rogue One tinha a chance de explorar este universo sem a mitologia do Escolhido ou das questões familiares e dinásticas dos Skywalker.
Embora seja um filme de guerra – com algumas das melhores cenas de luta da saga – a trama não se afasta muito do que já conhecemos, apresentando-se com uma outra “roupagem” graças a novos cenários e personagens.
As referências aos filmes anteriores são muitas mas Rogue One nunca consegue estabelecer claramente o seu papel dentro da saga. Embora levante questões muito interessantes como os limites da guerra ou o sacrifício em nome de algo maior, elas nunca são verdadeiramente exploradas.
No final, fica o desejo de rever Uma Nova Esperança para dar continuidade ao legado dos corajosos elementos de Rogue One. E isso é o melhor presente que o filme nos podia dar neste Natal.