Danny Rand faz sua apresentação na série Punho de Ferro antes da estreia dos Defensores e de se juntar com Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage. Mas será Danny Rand o Defensor que o público merecia? Será esse o último grande herói urbano merecedor do título?
Crítica sem spoilers.
Quem é Danny Rand?
Esse é o grande tema da série. Chegado a Nova Iorque, Danny descobre que a maior batalha que vai encontrar se encontra dentro de si. Dividido entre o Danny criança herdeiro de um império e um título de herói extraordinário, ele não sabe qual é o seu caminho.
A essa dúvida existencial se junta o fato de Danny ter uma inocência que não pertence a este mundo. O ator Finn Jones interpreta na perfeição a esperança e alegria jovial de Danny, uma característica que faz parte do personagem nos quadrinhos.
Um roteiro desinspirado
Infelizmente, o roteiro de Punho de Ferro sofre de vários problemas: desde furos no roteiro, a um ritmo inconsistente de episódios e até diálogo desinspirado e clichê.
O ritmo lento inicial se arrasta até o sexto episódio, momento em que sentimos que a série entraria finalmente no bom caminho. E após alguns episódios mais interessantes, os capítulos finais decepcionam por inteiro.
A história é “resolvida” de forma apressada e com soluções inverossímeis. O grande finale enterra por completo a temporada e não existe uma sensação de satisfação no desfecho.
Por outro lado, as motivações de Danny nunca são claras porque nem ele sabe o que quer. Isso é algo admitido pelo herói, e a série assume que é uma das suas principais questões. O problema está em transformar essas dúvidas em uma jornada interessante de assistir; esta divagação torna difícil querer seguir e investir emocionalmente no personagem.
Afinal, Danny é o protagonista e o grande herói da história. Mas a série nunca dá motivos realmente consistentes e credíveis para apontarmos e dizermos “estou torcendo por esse herói!” Aliado a isso estão diálogos fracos, com uma escrita que faz até Madame Gao perder a sua mística conquistada em Demolidor.
Este é o Punho de Ferro mas as lutas não convencem
Com um herói conhecido pelos seus talentos extraordinários de artes marciais, Punho de Ferro tinha de ter cenas de luta brilhantes. Como acreditar que Danny Rand é o grande campeão de K’un-Lun se ele não luta como o guerreiro extraordinário que todos dizem ser?
Mas é exatamente isso que falha. O herói não é fluído em seus movimentos e existe um esforço constante no rosto de Finn Jones durante as cenas de combate. Ele está longe de ser o Punho de Ferro prometido, mas não é o único se debatendo com esses problemas.
Quase todas as cenas de luta têm dificuldade em esconder a coreografia previamente combinada, quebrando assim o realismo que tentam retratar. Compare isso com Demolidor, série onde as lutas são aclamadas e nunca se duvidou da capacidade de combate de Matt Murdock.
O grande destaque vai para Colleen Wing, interpretada pela carismática Jessica Henwick. Os combates de Wing são entusiasmantes e ela realmente se torna uma arma viva quando liberta a sua raiva.
O grande erro da série
Punho de Ferro tinha a oportunidade de ser o único Defensor com uma componente mística, algo que o tornaria muito diferente dos outros 3. Afinal, os seus poderes são conquistados em uma luta com um dragão imortal de um reino extradimensional.
Isso é referido na série mas nunca é realmente abordado de forma credível. Estamos na Marvel pós-Doutor Estranho e o misticismo faz parte do universo cinematográfico da companhia. Porquê fugir disso? O orçamento pode ser um dos problemas mas a solução de tornar Danny um herói urbano como Jessica Jones ou Luke Cage não funciona.
Com uma abordagem falhada ao dragão Shou-Lao e aos elementos fantásticos, Danny também não vive no mesmo cinismo que seus futuros colegas. Sem o seu misticismo, o personagem acaba perdido numa mistura de vários conceitos sem nunca atingir o seu potencial.
Manhattan não é uma boa substituta do Harlem ou Hell’s Kitchen
O Harlem em Luke Cage era como uma personagem viva, um cenário com personalidade própria banhada em dourado. Hell’s Kitchen é suja, escura e perigosa – e não conseguimos imaginar Jessica Jones ou Demolidor em um outro lugar.
Mas a Manhattan de Punho de Ferro? É um lugar de tom cinza, com música minimalista e cai imediatamente no esquecimento. É possível que isso tenha sido algo pensado desde o início como um elemento importante para contrastar com o espírito zen de Danny ou a sua ingenuidade.
Contudo, em uma série com vários problemas, esse se torna mais um a arrastar a série ao fundo.
Elenco e seus personagens
Finn Jones é um bom Danny Rand mas não convence como Punho de Ferro. O ator tem dificuldade em representar de forma honesta o seu lado de super-herói, faltando gravidade na sua interpretação de forma a conseguir acreditar na sua história.
Jessica Henwick é uma ótima adição ao universo Marvel, criando uma Colleen Wing forte mas repleta de detalhes sutis. Sua atuação é tão boa que dá até vontade de chamar Simone Missick para reprisar o papel de Misty Knight e juntas fazerem a spin-off “Filhas do Dragão”.
Tom Pelphrey dá vida a Ward Meachum, um personagem com vários motivos para você não gostar dele. Mas a forma como o ator interpreta a viagem tumultuosa de Ward é sem dúvida um dos pontos altos da série. Jessica Stroup interpreta Joy Meachum de forma competente e segura, mostrando segurança e empenho com a sua personagem.
David Wenham oferece um Harold Meachum com muitas semelhanças com um vilão dos filmes de James Bond. O personagem é bizarro de várias formas e Wenham interpreta Harold com uma insanidade divertida de assistir.
Rosario Dawson retorna à sua Claire Temple mas não é a mesma personagem que aprendemos a admirar. O roteiro falha com Dawson e sua Claire, tornando ela como mediadora entre outros personagens e quase narradora daquilo que estamos assistindo. Sua intromissão é constante e ela é colocada em situações que simplesmente não fazem sentido.
Carrie-Anne Moss volta a interpretar Jeri Hogarth e ela sabe dominar suas cenas como ninguém. Seus minutos na série são poucos mas ela vale cada segundo.
Veredito final
Punho de Ferro é uma série com várias falhas mas não deixa de ser essencial para os fãs Marvel. As várias referências às outras séries são algo que vale a pena assistir, ligando todo esse mundo em constante expansão.
Como série solo ela não funciona, traindo as expectativas que os fãs possam ter tido. É uma descida inesperada e muito significativa para a Marvel que habitou o público com séries muito acima da média na Netflix.
Embora Luke Cage não tenha estado ao mesmo nível que as anteriores, Punho de Ferro é uma quebra abrupta na fórmula vencedora. A série não parece ter sido criada com o mesmo cuidado e atenção, resultando em um Punho de Ferro difícil de acreditar.