O filme Assassin’s Creed chegou aos cinemas em um salto de fé com Michael Fassbender no principal papel. Mas será que aquilo que tornou a franquia de games famosa recebeu a devida tradução cinematográfica?
Leia nossa crítica sem spoilers.
Que roteiro é esse?
É uma pergunta sincera. Que roteiro é esse de Assassin’s Creed? O filme não chega nunca a decidir a sua abordagem à história dos personagens e à herança do seu passado dos games.
Em vários momentos, a trama se enrola desnecessariamente, complicando uma história que é simples de explicar; mas em várias outras cenas, os personagens e seu desenvolvimento é simplificado ao ponto de estarem tratando o público como néscios vagamente funcionais.
Conseguiram transformar Assassin’s Creed em algo entediante
Sim, a sério. A primeira hora do filme é um lento crescendo para algo que nunca chega realmente a atingir o clímax prometido. A maioria do tempo de filme é centrado em Callum Lynch, o ex-condenado à morte que escapou ao seu destino final por ser essencial às Indústrias Abstergo. O seu antepassado, Aguilar de Nerha, é a razão que torna Callum tão especial.
Isto é algo constatado como fato ao longo do filme, sendo estabelecido por vários personagens. Seria de esperar que o filme desse mais tempo então a Aguilar, o elemento essencial da história. Mas isso não acontece e o filme se arrasta no ambiente estéril das Indústrias Abstergo com um débil desenvolvimento da trama.
O que fez os jogadores se apaixonarem pelo game é esquecido pelo filme
Ao colocarem o foco da história no presente e em Callum Lynch, o filme joga pela janela fora aquilo que os fãs da franquia adoram: viver aventuras no passado. São as experiências em várias épocas da história que realmente apaixonaram os jogadores e estabeleceram a franquia que hoje conhecemos.
A história de Aguilar, o Assassino fiel ao credo, e o ambiente da Inquisição Espanhola de 1492 deveriam ter sido o foco do filme. Esses são os poucos pontos de interesse que esse longa conseguiu criar e, infelizmente, não soube cuidar.
O filme se leva a sério demais, criando uma aura dramática puramente superficial e que em nenhum momento fez para merecer.
Michael Fassbender como duplo protagonista
Fassbender não sabe fazer feio e é visível o esforço do ator na entrega e desenvolvimento de Aguilar / Callum. Michael Fassbender fez o melhor possível com um roteiro fraco e é só graças a ele que o filme não é uma desgraça total.
Marion Cotillard é uma atriz que anteriormente deu provas das suas elevadas capacidades de interpretação; mas em Assassins’ Creed, Cotillard se apresenta desinspirada e robótica.
Mas também existem coisas positivas em Assassin’s Creed
As cenas de ação no passado, mostrando a luta entre Assassinos e Templário, são dignas de nota positiva. Os momentos de perseguição e parkour pelos telhados são muito bem conseguidos, recriando a sensação de adrenalina dos games. Estas são as cenas onde a atriz Ariane Labed brilha com a sua Maria, pulando ao lado de Aguilar.
Algo importante a sublinhar é o fato das cenas do passado serem todas faladas em espanhol. É um detalhe sutil mas relevante que ajuda ao realismo da recriação histórica.
Que significa isso para o futuro dos filmes baseados em games?
Um mau filme não vai significar o fim das adaptações cinematográficas de games. Elas existem há vários anos assim como a “maldição” de não existir um filme muito bom dentro do gênero.
A fórmula certa ainda não foi encontrada e talvez a isso se deva o fato de não existir realmente uma fórmula. Cada game tem em si mesmo um universo e narrativa de difícil tradução para uma experiência mais limitada como o cinema. É preciso também compreender que o essencial é levar para os filmes aquilo que nos cativa quando jogamos, o espírito do game.
Deve isso significar que não é possível atingir esse objetivo?
Não. É só mais um motivo para tornar esses filmes realidade.