Deuses Americanos (American Gods) viaja até a civilização antiga egípcia para apresentar a encarnação de Anúbis na Nova York de hoje em dia. Mr. Jacquel é a identidade do deus chacal e a sua introdução na série foi profundamente inspirada na mitologia de Anúbis e do Egito milenar.
Confira agora o essencial sobre o mito de Anúbis e a sua adaptação na série Deuses Americanos.
Como surge Anúbis em Deuses Americanos?
O episódio 3 teve a introdução de Anubis de uma forma que não existiu no livro. Em “Head Full of Snow”, Mr. Jacquel (Anúbis) surge após a morte súbita de uma senhora egípcia. Quando ela morre na sua cozinha, Mr. Jacquel bate à sua porta para a levar até o seu julgamento no além, guiando a mulher na transição da vida para a morte.
Acompanhando a sua dona em espírito, está o seu gato, em uma referência a outra divindade egípcia: Bastet. No mundo dos mortos, Anúbis coloca o coração da falecida em um prato da balança e uma pena em outro prato. Isso serve para julgar a vida da defunta e determinar se ela é merecedora de ir para o além dos deuses egípcios.
Quando o seu coração se revela mais leve que a pena, a morta está preparada para ascender a um novo plano. Ela passa depois por uma das 5 portas que a levarão até o seu destino final, sempre acompanhada do seu gato fiel.
Embora a mulher fosse devota da religião islâmica, ela tinha crescido no Egito ouvindo as lendas dos velhos deuses. A sua avó contava para ela os mitos e tradições antigas do seu povo, e quando ela emigrou vários anos mais tarde, trouxe consigo a crença dos deuses da antiguidade egípcia.
No livro, Anúbis surge pela primeira vez na cidade de Cairo mas aquela localizada nos Estados Unidos da América. A primeira vez que Shadow encontra a divindade, ele se mostra como um cão preto com orelhas pontiagudas. Mas rapidamente o protagonista descobre que Anúbis é conhecido como Mr. Jacquel e tem uma funerária junto com Mr. Ibis, a nova encarnação do deus Tot.
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Um dos deuses mais importantes da mitologia egípcia
Anúbis é um deus com milênios de existência na memória da Humanidade, existindo inscrições da sua imagem em túmulos da Primeira Dinastia do Egito (cerca de 3100-2890 antes de Cristo). Venerado como um protetor dos túmulos e um guia para todas as almas na sua transição da vida para o além, Anúbis tinha um papel extremamente importante na mitologia egípcia.
Esta divindade – também chamada de Anpu ou Inpu – foi a primeira divindade do seu panteão consagrada ao reino dos mortos. Durante a Primeira Dinastia e o Império Antigo Egípcio, Anúbis era o único Senhor dos Mortos e só ele atribuía julgamento às almas.
Vários nomes eram atribuídos a este deus como “Senhor da Terra Sagrada”, “Aquele Que Está Sobre a Montanha” ou “Aquele Que Está No Local do Embalsamento”. E quando um outro deus assumiu uma maior popularidade em matéria do submundo e do além, foi no embalsamento que Anúbis permaneceu mestre absoluto.
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Osíris e a invenção da mumificação
No final do Império Antigo, Osíris ganhou uma adoração que relegou Anúbis para uma posição secundária. Vários atributos do deus chacal foram absorvidos pelo mito de Osíris e a própria origem de Anúbis foi modificada para tornar ele filho de Osíris e Néftis.
Com a popularidade e assimilação de Anúbis no grande mito de Osíris, o deus chacal foi transformado no seu guardião, assistindo o seu pai no julgamento dos espíritos e se transformando no deus dos rituais funerários. Segundo as lendas, foi Anúbis quem reconstruiu o corpo de Osíris e o mumificou, após este ser assassinado pelo deus Set.
Anúbis é considerado o inventor da mumificação, com as histórias descrevendo como essa arte foi primeiramente praticada no cadáver de Osíris. A antiga civilização egípcia via o processo de embalsamento e mumificação como absolutamente essenciais para o culto digno dos mortos.
Para o antigo povo egípcio, a sobrevivência da alma no além dependia da preservação do seu corpo e a lembrança do seu nome. Como um veículo da alma, o corpo precisava ser protegido e cuidado para garantir que o espírito sobrevivia a todos os desafios que o aguardavam no submundo. Segundo este antigo culto, a alma não teria uma chance de alcançar vida eterna se o seu corpo não fosse preservado.
Quando um egípcio morria, não importando sua classe social, o seu corpo seria embalsamado e mumificado. Anúbis era venerado como o deus da purificação dos corpos e a sua preparação para o além, mas sabia que a sua cabeça de chacal estava diretamente relacionada com um problema real?
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A simbologia do chacal e a necessidade da proteção dos túmulos
Nos primeiros tempos do antigo reino egípcio, existiam vários problemas com o enterro dos mortos, especialmente devido aos chacais. Este animal era conhecido por desenterrar facilmente os cadáveres e os comer, sendo então vistos como uma ameaça à paz do morto no além.
Buscando solucionar esse problema, a antiga civilização desenvolveu túmulos mais elaborados e invocou a proteção de Anúbis. O deus com cabeça de chacal era venerado como um protetor dos cemitérios, afastando os chacais e cães selvagens dos defuntos.
Anúbis era sempre representado com a cor preta para simbolizar a decomposição do corpo humano e o solo do vale do rio Nilo. Por um lado a morte, pelo outro o renascimento: as duas faces deste deus e do culto funerário egípcio.
No livro Deuses Americanos, Mr. Jacquel – nome muito semelhante a jackal, chacal na língua inglesa – explica a Shadow como era o processo de uma alma após a morte:
“Antigamente, tínhamos tudo planejado. Você se prepara quando morre, e responde por todas as suas más ações e todas as suas boas ações, e se seus atos ruins pesassem mais que uma pena, nós daríamos a sua alma e coração a Ammet, a Devoradora de Almas.”
Anúbis era o principal guardião da balança que pesava o coração e a pena (símbolo da verdade), se tornando assim um dos principais decisores do destino de milhões.